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quinta-feira, 30 de maio de 2013

Negócios sociais não são filantropia, diz Nobel da Paz Muhammad Yunus


O prêmio Nobel da Paz Muhammad Yunus esteve em SP para lançar o primeiro centro acadêmico de negócios sociais da América Latina
por Arthur Chioramital

É possível ser uma empresa com foco no desenvolvimento social e ao mesmo autossustentável? Para Muhammad Yunus, prêmio Nobel da Paz de 2006, isso não só é viável como em algumas regiões do mundo já virou realidade. Criador do conceito de negócios sociais, Yunus deixa bem claro que não se trata de filantropia. A ideia vem atraindo a atenção de empresas e da academia ao redor do mundo. Na última segunda-feira, dia 27, o bengalês Nobel da Paz esteve em São Paulo para lançar o primeiro centro acadêmico de negócios sociais da América Latina, batizado de Yunus ESPM Social Business Centre.

Empresas com essa característica são criadas com o propósito de resolver problemas que atingem as populações das localidades em que estão instaladas e não de gerar dividendos. Apesar de não darem lucro, elas conseguem custear e ampliar as operações por meio das suas atividades. “Não se trata de caridade ou voluntariado, as pessoas envolvidas em negócios sociais são remuneradas de forma justa e os valores cobrados pelos serviços e produtos oferecidos refletem os custos de produção”, explicou Yunus, economista de formação, durante o evento que contou com a participação do Canal Rh. “Nessa atividade, o capital é utilizado para empreender e não para gerar mais capital”, afirma.

A francesa Danone tem uma história bem sucedida nessa área. Desde 2006, a multinacional mantém o Grameen Danone Foods, uma joint-venture, em Bangladesh, com foco no combate à desnutrição. A unidade desenvolveu um iogurte enriquecido com vitaminas e minerais que deve ser consumido duas vezes por semana ao longo de um ano. A fábrica usa mão de obra local e compra os principais ingredientes que utiliza de produtores da região. O produto final é comercializado em mais de 2 mil pontos de venda, além de ser distribuído na área rural. A empresa obedece todos os critérios que caracterizam os negócios sociais: cria empregos, oferece um produto que soluciona um problema do país e é economicamente viável. Desde 2011 Grameen Danone Foods opera no azul.

Muhammad Yunus cita um conjunto de centros médicos construídos em Bangladesh como prova de que é possível desenvolver negócios viáveis mesmo quando se retira o fator “lucro” da equação. Os empreendimentos, voltados para a população carente, oferecem serviços de saúde de qualidade a preços módicos, cerca de US$ 3 anuais por família. “Conseguimos criar uma alternativa para o sistema público de saúde deficiente oferecido pelo governo acessível para a população mais pobre. Atualmente existem quatro centros em operação e o quinto já está sendo construído.”

No Brasil, algumas empresas já atuam de acordo com essas diretrizes difundidas por Yunus. É o caso da rede de clínicas odontológicas Sorridents e do Banco Pérola. Sediado em Sorocaba, o banco oferece microcrédito a jovens empreendedores no interior de São Paulo.

Vocação nacional

Criatividade, empreendedorismo e consciência social. Segundo Yunus, o Brasil reúne as principais características para o desenvolvimento de negócios sociais, um dos motivos que levaram à escolha do País para a criação de uma unidade do Yunus Social Business Centre. Os projetos serão custeados inicialmente por um fundo de US$ 20 milhões, administrado pelo centro acadêmico que atuará como uma incubadora de negócios.

Além do Brasil, os centros acadêmicos, cuja missão é fomentar o conceito e a prática de negócio social, já estão presentes em sete países: Japão, Coréia, Itália, Alemanha, Estados Unidos, França e Turquia. Aqui, o foco será o estudo do impacto da criatividade e de questões ligadas à cultura das empresas no sucesso dos negócios sociais. As atividades do Centro estarão baseadas em três pilares: ensino (cursos de extensão), fomento à pesquisa e desenvolvimento de projetos. “O primeiro curso a ser oferecido será o de formação de gestores para negócios sociais. As aulas estão programadas para começar em agosto”, afirma Ismael Rocha Jr., diretor acadêmico de graduação da ESPM-SP e coordenador da ESPM Social.

Microcrédito

Inicialmente, Yunus emprestava dinheiro do próprio bolso para custear os projetos. Com a demanda crescente por crédito, ele passou a servir de intermediário e avalista para os empréstimos oferecidos pelos bancos participantes. Em 1983, com o apoio do Banco Nacional de Bangladesh e de algumas instituições que foram nacionalizadas foi criado o Grameen Bank (Banco Rural na língua Bengali). Hoje a instituição está presente em diversos países e oferece microcrédito à população menos favorecida e financia iniciativas com foco social. “Todas as unidades apresentam índices de inadimplência por volta de 1%”, afirma Yunus.

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