Nova York (AE) - Afinal, o Facebook vale US$ 100 bilhões? Essa é uma pergunta que tem sido constante no mercado após a empresa anunciar que pretende levantar US$ 5 bilhões em sua oferta pública inicial de ação (IPO, na sigla em inglês) em maio deste ano. Se as estimativas se confirmarem, o valor inicial de mercado da empresa pode chegar a US$ 100 bilhões, superando os US$ 23 bilhões do Google em sua oferta em 2004.
Uma enquete aberta em 1º de fevereiro deste ano pela revista The Economist em seu portal aponta que a grande maioria dos votantes não acredita em um valor tão alto. De 12.685 participantes que votaram até as 11h40 (de Brasília) de 21 de março, 82% não acreditam que a empresa seja tão valiosa, contra 18% que acreditam que a rede de relacionamento tem esse valor de capitalização de mercado.
No entanto, só depois que as ações começarem a ser negociadas efetivamente é que se poderá ter uma ideia do real valor de mercado da companhia. Isso porque muitos investidores, por exemplo, compram na oferta com intuito de vender os papéis na primeira oportunidade de valorização. Outros, vendem no giro da estreia dos títulos na bolsa. Nesse sentido, alguns analistas recomendam esperar passar o frisson do IPO para então avaliar as perspectivas de ganhos no longo prazo, como David Rolfe, chefe de investimentos da corretora Wedgewood Partners, de Saint Louis, no Estado de Missouri. "Como nosso horizonte é de cinco anos ou mais, temos bastante tempo para avaliar o valor de mercado e as perspectivas do Facebook no longo prazo", completa Rolfe. Dos 19 IPOs de mídias sociais feitos em 2011, ao redor de 82% estavam sendo negociado no mesmo preço de estreia ou abaixo dele no final de dezembro do ano passado, segundo levantamento feito pelo site especializado Mashable.
O fato é que hoje, o Facebook é uma empresa com receita de US$ 3,711 bilhões, de acordo com o documento enviado à Securities and Exchange Commission (SEC, a CVM dos EUA). Desse total, US$ 2,067 bilhões se referem apenas aos EUA e US$ 1,644 bilhão ao "resto do mundo". O potencial de expansão dessa receita é que vai determinar as cotações do papel em Bolsa. Até agora, o faturamento com anúncios tem crescido bem, pelo menos quando comparado com o US$ 1,971 bilhão de 2010 e os US$ 777 milhões de 2009.
O economista da CLSA, James Lee, enxerga números robustos para a empresa daqui para frente. Ele estima faturamento de US$ 14,2 bilhões nos próximos quatro anos e com isso consegue enxergar um valor de mercado de US$ 100 bilhões a US$ 130 bilhões para a companhia.
De todas as ações do Facebook, apenas ao redor de 5% estão sendo oferecidas neste IPO. O restante já foi distribuído por meio de certificados de ações para um número bem mais restrito de pessoas, sendo o majoritário o criador e CEO do Facebook, Mark Zuckerberg (28,4%). Os demais são funcionários, ex-funcionários, investidores individuais e investidores corporativos, como a Microsoft e Goldman Sachs (menos de 1%). Até mesmo dois famosos desafetos de Zuckerberg, os gêmeos Cam e Tyler Winklevoss possuem um pedacinho do Facebook, com 0,22% cada um.
Se o Facebook seguir com seu crescimento meteórico, Zuckerberg certamente conseguirá subir vários degraus no ranking dos bilionários da Forbes, mesmo com salário anual base de US 1 por ano, que é o que irá ganhar a partir de 2013, seguindo exemplo do falecido Steve Jobs, da Apple. Por enquanto, Zuckerberg ocupa a 35ª colocação da lista da Forbes, com US$ 17,7 bilhões. Já aos bancos que subscreverem ao IPO, o Facebook irá pagar 1,1% de comissão, uma taxa bem abaixo da paga por grandes companhias, que foi de 5,48% em média.
Nova tecnologia pode levar o 'face' desaparecer em 10 anos
Nova York (AE) - O número de desafetos, inimigos e críticos do Facebook é um grão de areia perto dos quase 1 bilhão de usuários ativos e fiéis que a rede social conquistou nos últimos anos, mas parece ser crescente. O professor Eben Moglen, que leciona na Escola de Direito da Universidade de Columbia, em Nova York, há 25 anos, está no primeiro grupo. O professor, que trabalha no desenvolvimento de um software gratuito - FreedomBox - que poderá ser baixado pela internet, sem licença de uso, de modo a permitir a navegação na internet com mais privacidade, ataca a invasão de privacidade da rede social para usar o termo mais politicamente correto. Espionagem é a palavra usada pelo professor Moglen.
"O motivo pelo qual o Facebook está tão enorme está no seu valor por espionar. Não há outro lugar no mundo para espionar centenas de milhares de pessoas com tanta eficácia", disse à Agência Estado.
"A oferta do Facebook é pequena, de alguns bilhões de dólares. A Cisco recentemente comprou uma companhia de stream vídeo por US$ 5 bilhões, que é mais ou menos todo o dinheiro que o Facebook vai levantar. A razão pela qual o Facebook é tão importante não é pelo negócio em si ou por prover rede social e ganhar em média US$ 5 por pessoa (com anúncios)".
Como empresa de capital aberto, o Facebook terá de se adaptar rapidamente se não quiser correr o risco de desaparecer. "A relação do Facebook com o mundo secreto é crucial para eles e uma vez que eles se tornem companhia aberta eles terão de tratar isso de modo diferente. Daqui a um ano estaremos falando em como o Facebook teve de se ajustar para ser uma empresa pública", disse.
Moglen acha que o movimento contrário ao Facebook deve ganhar força e acabará perdendo espaço para a concorrência, especialmente se o usuário perceber que poderá ter maior controle e sigilo de suas informações. Na Europa, já existe movimento em direção a mudança de regulação para garantir maior privacidade nas redes sociais.
Esse movimento foi iniciado após uma campanha de três anos liderada por um estudante de direito da Áustria Max Schrems, que exige que haja regulação que obrigue o Facebook a deletar todas as informações que possui de seu banco de dados caso o usuário assim o deseje. Ele próprio exigiu na Justiça que o Facebook o entregasse todos os dados que tinha sobre ele. O resultado foi um documento de 1.222 páginas, contendo inclusive dados que ele já havia apagado. "Quando falo que em até 120 meses o Facebook não existirá mais, estou falando literalmente a verdade. Do ponto de vista tecnológico, o Facebook será substituído", garante Moglen.
Trunfo e risco na legião de usuários
Nova York (AE) - No documento que o Facebook apresentou à Securities and Exchange Commission (SEC, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos), de mais de 150 páginas, a empresa deixa claro que seu maior trunfo é também sua maior fragilidade: quase 1 bilhão de usuários ou 845 milhões de usuários ativos até 31 de dezembro para ser mais preciso. A barreira do 1 bilhão, no entanto, deve ser quebrada em agosto deste ano, estima a empresa de marketing digital iCrossing. São as informações fornecidas gratuitamente por esses usuários que permitem que a empresa as repasse a seus anunciantes. Um dos dados mais preciosos para os anunciantes é o botão "Like"(ou "curtir"), que mostra o que os usuários gostam de consumir, ler, onde gostam de ir, enfim, aponta tendências para as mais variadas áreas. Em 2011, a empresa teve 2,7 bilhões de "curtir" e isso permite direcionar os anúncios diretamente na página do usuário de acordo com seus gostos.
O risco está em esses usuários migrarem para outra rede social, conforme admite o Facebook no prospecto preliminar da operação. A companhia lembra que outras redes sociais ganharam rapidamente popularidade para depois experimentarem o declínio, muitas vezes precipitadamente. "Não há garantia de que não iremos experimentar similar erosão da nossa base ativa de usuários ou dos níveis de comprometimento", diz o documento.
O Facebook reconhece que se houver falha na retenção dos usuários existentes ou na adição de novos, ou se os usuários reduzirem o nível de comprometimento com o serviço, terá impacto direto na receita, comprometendo os resultados. "O tamanho da nossa base de usuários e o nível de comprometimento deles são críticos para o nosso sucesso", diz a empresa.
Existem ainda os riscos econômicos - como volatilidade cambial e alta de juros - comuns a qualquer empresa. Segundo o FB, as mudanças no câmbio em vários países e em particular, o fortalecimento do dólar, irão afetar negativamente a receita e os resultados operacionais expressos em dólares americanos. No ano passado, as perdas em moedas estrangeiras somaram US$ 29 milhões. Para aliviar essas perdas, a empresa pensa, no futuro, em entrar no mercado de derivativos ou utilizar outros instrumentos de hedge para os riscos em moeda estrangeira.
Outros riscos estão em mudanças regulatórias e em ações judiciais. A mais recente ação contra o FB é da empresa Yahoo!, que está processando a rede social por infringir 10 patentes, cuja possibilidade de ocorrer já era vislumbrada pelo Facebook no documento enviado a SEC. A empresa informa que já está envolvida atualmente em uma série de processos judiciais.
A companhia entende que o aumento da competição e a sua própria relevância poderá resultar em aumento do número de ações judiciais relacionadas a patentes e outras propriedades intelectuais.
O Facebook ainda não anunciou onde irá listar suas ações, se na Nasdaq ou na New York Stock Exchange (Nyse). O diretor-gerente sênior da FTI Consulting, Jason Frankl, disse à Agência Estado que se a operação for vista como a do Google, a história diz que a vantagem está com a Nasdaq, onde estão gigantes da área de tecnologia como Apple, Google, Oracle, Microsoft, Intel e Amazon.
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