13/05/2009 09:05
Raquel Salgado
Imprensa Livre - São Sebastião
O seminário “Sustentabilidade e Pré-Sal”, realizado ontem em Caraguatatuba, atraiu autoridades, políticos e empresários de toda a região. Palestras seguidas por debates levantaram polêmicas, especialmente na questão do saneamento básico, tendo por alvo a Sabesp, ré em mais uma ação judicial.
Mesa formada para a primeira palestra, proferida por José Luiz Marcusso, da Petrobras
O público não participou diretamente das
discussões, apenas debatedores convidados.
O seminário foi aberto por Hércules Góes, editor da revista Ecoturismo e organizador do evento, que sugeriu a criação de um fórum permanente de sustentabilidade. Já o anfitrião, professor Daniel Carreira Filho, reitor do Centro Universitário Módulo, destacou seu compromisso com a qualificação da mão de obra local – dois cursos já foram implantados: Gestão Ambiental e Petróleo e Gás.
Ele aproveitou a ocasião para fazer um alerta: “Pode vir muito dinheiro, mas se não houver uma preocupação generosa com as questões sociais e ambientais, virá miséria também”.
Auto suficiência
José Luiz Marcusso, gerente geral da Petrobras na Unidade Bacia de Santos, abordou o primeiro tema do seminário
“Desenvolvimento Sustentável na Exploração do Pré-Sal”, apresentando o País como a caminho da auto suficiência em petróleo e gás, consolidada pelas descobertas feitas na Bacia de Santos, a maior dos últimos trinta anos.
Segundo dados apresentados por Marcusso, a Bacia de Campos, no Rio de Janeiro, foi descoberta na década de 70 e a partir de 2006 já garantia a auto-suficiência do País em petróleo. Sua produção, entretanto, é de um tipo de óleo muito pesado, que exigiu adaptações tecnológicas e importação de petróleo leve. Ao contrário do Pré-Sal, onde a produção é justamente de petróleo do tipo leve.
Já a demanda brasileira por gás cresceu nos últimos anos de 600 mil para 22 milhões metros cúbicos, o que é suprido em 50% pelo gás boliviano. As novas descobertas na Bacia de Santos, entretanto, vão reduzir a dependência brasileira do gás importado da Bolívia.
O plano de negócios da Petrobras prevê investimentos de 40 bilhões de dólares até 2013 no Pré-Sal, nos cinco pólos de produção já pesquisados. Em 2017 serão 11 plataformas produtoras trabalhando. Em 2020, com 22 plataformas instaladas, o investimento chegará a 98 bilhões, com uma produção diária de 4,2 milhões de barris.
Um destes polos produtores é Mexilhão, cujas obras estarão concluídas em agosto próximo para receber a plataforma de exploração que será instalada em dezembro. Mexilhão começa a produzir já no próximo ano 20 milhões de metros cúbicos por dia, enviando gás para a base de gás de Caraguatatuba, e de lá, por 98 quilômetros de gasodutos serra acima até Taubaté, onde se interliga à rede nacional.
Outra área do Pré-Sal é o campo de petróleo denominado Tupi, cujo início de produção – 14 mil barris/dia – ainda em teste de longa duração, foi largamente comemorada pela empresa e pelo presidente Lula no último primeiro de maio. A previsão é que este campo produza 100 mil barris para um investimento de quatro bilhões de dólares. O campo de Tupi será explorado por um consórcio onde a Petrobrás tem 65%, o BG Group 25%, e o grupo português Petrogal 10%.
O gerente da Petrobras na Unidade de Santos também falou sobre os inúmeros projetos sócio ambientais financiados pela empresa em todos os municípios da região. Citados como uma “compensação” para o LN, eles beneficiam jovens e adolescentes com capacitação profissional, deficientes, comunidades pesqueiras, artesãos, iniciativas culturais, cooperativas de sucata, animais silvestres e até trilhas subaquáticas. Dentro deste programa da empresa, denominado Integração Petrobras/Comunidade, foi instituído este ano um concurso público para as regiões sul sudeste, no qual 414 projetos se inscreveram em quatro estados, dos quais foram selecionados 140. No LN, o investimento da empresa nos projetos selecionados para a região será de um milhão de reais.
“Todo este cenário é um desafio de oportunidades, um grande desafio para a sociedade brasileira”, diz Marcusso, destacando também o desafio técnico de perfurar e explorar gás e petróleo abaixo da camada de dois quilômetros do Pré-Sal, e manter navios plataformas a mais de 300 quilômetros da costa.
A mesa de debatedores, formada para esta primeira palestra, foi composta por Campos Júnior, secretário de Meio Ambiente de Caraguatatuba; os vereadores Omar Kazon e Valdir Veríssimo, presidentes das Câmaras de Caraguatatuba e Ilhabela; os prefeitos Eduardo César e Ernane Primazi, de Ubatuba e São Sebastião; Luiz Bischop, presidente do Sindicato dos Hotéis do LN; Waldemar de Oliveira Júnior, do Senai de Santos; e pelo reitor anfitrião.
O seminário promoveu outras três palestras e debates no decorrer do dia sobre os temas: Desenvolvimento e manejo consciente de água e saneamento básico; Os impactos do pré-sal no cenário empresarial regional; posicionamento do Brasil no cenário mundial – de País agrícola a grande exportador de petróleo; e Apresentação das potencialidades de Caraguatatuba.
O evento contou ainda com a presença do vice- presidente da Câmara de Comércio Brasil-Venezuela, Carlos Luiz Perez Prieto; do deputado federal Dalmir Rodrigues (PV); e de um representante do deputado estadual Bruno Covas (PSDB), neto do ex-governador Mario Covas.
Província Pré-Sal
Com cerca de 350 mil quilômetros – 800 quilômetros de comprimento por 200 de largura – a Bacia de Santos ocupa uma área que vai de Santa Catarina ao Espírito Santo, em profundidades que variam de 2 a 2,4 mil metros, e atingem até 5 mil metros.
Nesta área está o que os técnicos chamam de “Província Pré-Sal”. Formada há cerca de 160 milhões de anos, quando os continentes africano e sulamericano ainda estavam unidos, ela foi criada no espaço vazio aberto entre os continentes.
Trata-se de uma bacia sedimentar, onde muita matéria orgânica trazida pelos rios e rochas formadoras de petróleo foram sendo depositadas. Este material sofreu grande variação de pressão e temperatura ao longo dos séculos, sendo depois coberto pelo oceano, o que gerou um acúmulo de sal, formando uma camada de até dois mil metros de espessura.
Esta camada de pré-sal funciona como um “selo”, que protegeu as reservas de petróleo e gás lá existentes. Diferente do que ocorreu na Bacia de Campos, onde a camada de pré-sal apresentou “janelas” que permitiram que os produtos vazassem, subindo para profundidades menores, entre 900 e 1.500 metros, e com isto sofrendo um processo de mistura e decomposição. Por isto os produtos da Bacia de Santos são considerados mais “puros”, com alto preço no mercado internacional no caso do petróleo.
O pré-sal possui uma gigantesca reserva de petróleo e gás onde a Petrobras já detectou oito campos para exploração. Nos próximos cinco anos 22 novos poços de avaliação serão perfurados na Bacia de Santos.
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